- Amanhã já vai melhorar o tempo! Até dia 9 de Maio, há um aumento gradual da temperatura.
- A sério?? O Sol vai voltar?
- Oh Mariana deves tar a brincar comigo, então não ouviste na rádio?
- Não...
- As pessoas têm de começar a ouvir mais, ver mais e sentir mais.
O meu pai pode ter em parte razão: devia começar a ouvir mais e ver mais, mas sentir mais?
Estamos as três no mesmo barco e nenhuma comprou bilhete. Empurraram-nos cá para dentro uma de cada vez, em pouco espaço de tempo.
A primeira fui eu. A princesinha que durante tanto tempo dizia não saber o que era ter um príncipe, quando lhe deram a provar desse fruto, foi a primeira a embarcar. Tem piada como duram mais as coisas que acabam do que as que começam. Andava o coração pesado à procura de outro sítio onde pudesse chorar um bocadinho que não os ombros da irmã, da mãe, do melhor amigo, da LC e dos caracóis, e mal encontra: Zás! Caem-lhe com a varinha mágica em cima. De lágrimas no canto do olho, coração arrependido ou não, pesado ou leve, lá acabou por ir ter ao destino que não devia, e quase (espero eu estar certa e que não tenha sido mesmo) que se deixava engolir pelo estômago meio vazio que já há tanto tempo assombrava.
A segunda foi a mana. A artista que provou do fruto e saboreou por alguns tempos, veio logo a seguir. Tanto tempo que passou e nem assim se conhece verdadeiramente quem nos dá a provar nem o efeito e duração do fruto. E com a mana foi assim. Provou o fruto, saboreou, e quando lho tiraram e não deram mais a provar, ela não soube por quanto tempo iria desejar mais uma trinca. Também o coração dela andava à procura de outro sítio onde pudesse chorar um bocadinho, não apenas por quem lhe tirou o fruto, mas por quem já lho tinha dado muito, muito antes e estava indeciso em voltar a dar. Mas mal ela encontra: Zás! Caem-lhe com os floreados e o palavriado pouco objectivo em cima. De olhos secos e coração frio e silencioso, lá acabou por ir ter ao destino que não devia, e por se meter em caminhos pouco abençoados.
A terceira foi a mãe. A Super-Mulher que conhecia decor o sabor daquele fruto, que o tinha provado durante anos e anos, foi a última a embarcar. Estava finalmente a emigrar para Ruas da Paz, ruas onde o Sol não precisa de brilhar para se ser feliz, ruas onde sabia que podia encontrar outros frutos, quando lhe voltam a atormentar com o sabor daquele que ela pensava que já não queria. Também o coração dela andava à procura de outro sítio onde pudesse chorar um bocadinho, pela falta que lhe fazia e ao mesmo tempo pela força de começar um novo presente, e mal ela encontra: Zás! Caem-lhe com as Kelly Keys de 'Baba olhe o que perdeu, Baba criança cresceu' em cima. De coração já ocupado, lá acabou por ir ter ao destino que não devia, e agora dói-lhe tocarem na ferida.
Tem graça como nenhuma pediu para embarcar, nenhuma comprou bilhete, nenhuma pediu para seguir nesta viagem. Mas o Sol está a voltar, e em breve os astros vão voltar a alinhar-se e o barco irá atracar noutros portos.
Quanto ao que o meu pai me disse, a minha opinião mantém-se, não quero sentir mais do que o que sinto, já me está a doer bastante ter de o continuar a sentir sabe-se lá até quando!


i acabar. Olha como o coração dela saltou só de pensar em 

mbras? Estava sempre a chamar pela mãe a pedir leite. Olha como continua bonita, pele clara, bochechas grandes e rosadas.. Que sorriso doce. Parece a mãe em pequena, também fazia covinhas quando sorria. E os lábios dela, olha para os lábios dela quando não está a falar... Tão bem desenhados! Agora está a fazer aquele olhar igual ao do pai em miúdo, a carregar o sobrolho como quem amua. Continua eléctrica como antes, não pára quieta, sempre a saltar e a dançar... Olha só o seu jeito de menina. Nunca foi muito traquina, mas sempre foi mimada, até lhe chamavamos de Mimos lembras-te? E como ela se agarrava a ti a dar-te beijinhos, nós até tinhamos inveja que os nossos netos não nos fizessem isso. Eu sei que ela continua a mesma menina que se esconde naquele corpo de mulher. Sempre teve um coração grande e forte, nunca confiou muito nele, tinha sempre medo e nunca se achou muito forte, mas olha para ela! Olha só para ela! Se aquilo não é um coração forte, então não sei.. Tão menina e já tão cheia de força. Olha só para o coração dela, chora de alegria, pela força que lhe dão os que gostam dela, os que estão sempre por perto... Olha como ela se orgulha ao falar deles, da irmã que é uma Artista, da mãe que lhe dá mimos, dos caracóis que a estão sempre a proteger... Mesmo com o coração torcido ela é feliz. Olha só o jeito dela de menina, não pára quieta, sempre a saltar e a dançar, nunca foi muito traquina.


