terça-feira, 19 de maio de 2009

Tu vs Montanha-Russa

A minha irmã escolhe a montanha russa, e eu, armada em forte, alinho com ela. Vamos em direcção às filas enormes que nunca mais acabam, bem que me podia ir embora, mas olho para a montanha russa mais uma vez, e não resisto em deixar-me ficar. Esse tempo de espera começa a provocar-me borboletas na barriga, um bichinho de ansiedade, e começo a sentir a adrenalina a ser estimulada, começo até a convencer-me que não tenho medo nenhum, que se as outras pessoas gostam, porque não irei eu de gostar? Ouço ao longe os gritos de histeria, horror, excitação (e como eu odeio esta palavra), e tanto mais, daqueles que estão naquele momento a andar; ouço ao longe, bem ao longe, relatos daqueles que já andaram, relatos que andam de boca em boca dos que estão na mesma fila que eu, que contam também a sua ansiedade. Eu estou na fila, com a minha irmã, e tento concentrar-me para não ter medo. Sei que quero muito andar na montanha-russa, mas e se alguma coisa corre mal?, Oh não tenhas medo palerma, és tão medricas. Talvez seja um bocadinho medricas, mas não gosto quando mo dizem, eu sempre fui forte, despachada. Chegou a minha vez. Entro e sento-me. A minha irmã começa a meter-me medo, e isto agora caía? E agora a protecção saía? Ela faz sempre isto, quer-me sempre assustar, mas eu nunca ligo nenhuma. Começamos a subir e Pára!! Assusto-me, olho para o lado, vejo as escadas de emergência, Mafalda deixa-me saír! Diz que eu quero ir embora, deixa-me ir pelas escadas. Retomamos a subida lenta, muito lenta, e quando chegamos ao topo, ao mais alto que se pode chegar, Pára!! Assusto-me, eu queria tanto parar aqui. É nesta altura que percebo que tenho medo de alturas, que não gosto de olhar para baixo depois de subir. Quanto mais alto se sobe, maior é a queda. ZÁS! Num ápice estamos lá em baixo. Grito, chamo uns quantos nomes e rogo pragas ao senhor que está a controlar a montanha russa, fecho os olhos e só rezo para que a protecção não saia e para que eu chegue rápido ao chão, sem efeitos secundários. A protecção não saiu, chegamos rápido lá em baixo, e os únicos efeitos secundários foram umas tonturas que passaram em segundos. A viagem acabou, a minha irmã pergunta, qual é a próxima?, Desculpa, por hoje chega para mim.

Agora vamos supor que tu és a montanha-russa. Vou em direcção a ti, a medo, confesso, mas estamos os dois neste jogo do engate, do vai e não vai que tanto se joga antes de se seguir viagem e eu, armada em forte, alinho. Penso em desistir, mas olho-te mais uma vez, e não resisto à tua cantiga, aos teus olhos ligeiramente verdes, quase parecidos com os meus. Este tempo de espera, o jogo do engate, começa a provocar-me borboletas na barriga, um bichinho de ansiedade, e começo a sentir a adrenalina a ser estimulada, começo até convencer-me que não tenho medo nenhum, que se as outras pessoas avançam, porque não irei eu avançar? Ouço ao longe, muito ao longe, relatos do tipo de pessoa que és, relatos daqueles que te conhecem melhor do que eu, e acabo por ficar na fila (deve ser porque os relatos até dizem bem de ti, apesar de me começarem a alertar a consciência de que és como a montanha-russa que a minha irmã escolhe e que eu tenho medo mas finjo que não). Eu estou na fila, à espera que tu decidas avançar também, e tento concentrar-me para não ter medo. Sei que quero muito andar na montanha-russa, ou seja, estar contigo, mas e se alguma coisa corre mal?, Só tu sabes o que sentes em relação a ele e só tu sabes se podes avançar ou não. Ouço a voz da minha irmã, não a mesma que me levou na montanha-russa, a minha outra irmã. Só eu sabia o que sentia, ela tem razão, e como sou forte e o sentimento também, sigo em frente. Chegou a minha vez. Abro-te um bocadinho do coração e deixo-te entrar, mas afinal não eras tu a montanha-russa? Ninguém me mete medo, mas não hesito em pensar, e agora isto caía? E agora a protecção saía? Fora com os maus presságios, que aqui não são bem-vindos, assim o esperava. Começamos a subir e Páras!! Precisas de parar para pensar se é realmente este o teu trajecto. Assusto-me, olho para o lado, procuro as escadas de emergência mas não as encontro. Ignorei a paragem brusca, estava a começar a gostar demasiado disto, que é como quem diz, de ti. Retomamos a subida, e quando chegamos ao topo, Páras!! Assusto-me. É nesta altura que percebo que tenho medo de alturas, que é como quem diz, de relações, que não gosto de olhar para baixo depois de subir. Quanto mais alto se sobe, maior é a queda. ZÁS! Num ápice estamos lá em baixo. Grito, chamo uns quantos nomes e rogo pragas não ao senhor que está a controlar a montanha russa, mas sim a ti. A protecção não foi forte o suficiente, não estava à espera que a descida fosse tão brusca, e caí, caí redonda no chão. Causaste-me efeitos secundários que não foram só umas tonturas, causaste-me apertos no coração com as tuas oscilações, com o teu sobe e desce. Fizeste desvios que eu não estava à espera, excedeste a lotação que podias suportar, e volto a dizer, causaste-me apertos no coração. Mas por sorte, a minha irmã, não a da montanha-russa, a minha outra irmã, e a mãe, e mais pessoas ainda, tentaram amparar-me a queda.
Depois acalmei, os apertos diminuíram de intensidade e decidi que não era altura de me ir embora. Não que quisesse já voltar a andar na montanha-russa, mas contava pelo menos adivinhar a próxima viagem, mais calma se possível. Mas não foi nada disso. Apercebi-me, e desculpa por ter sido tarde, que o meu coração não consegue andar nestas viagens. Tenta perceber que eu gosto demasiado de ti para ficar bem quando tu não queres que eu vá de viagem contigo, que se me dás um bocadinho, eu fico logo rendida aos teus olhos ligeiramente verdes, quase parecidos com os meus, e que não admito que depois de me dares um bocadinho, queiras voltar atrás. Tu dizes que precisas de mais umas quantas viagens para ver se realmente me queres levar numa viagem mais pacífica, à Terra do Nunca quem sabe?, mas eu não precisei de voltar a andar na montanha-russa para saber o que queria, que quem eu queria eras tu, o Peter também não voltou para casa com a Wendy, porque não queria crescer; mas não te deixes enganar, não fiques como o Peter. Não precisei, e gostava que tu também não precisasses. Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida, mas tu não pareces querer cuidar. Li há pouco tempo uma coisa que a Filipa escreveu, "se se gosta mesmo, pensa-se rápido. Se se demorar a pensar, é porque realmente não se gosta." Eu não precisei de pensar muito tempo para decidir o que queria, mas tu precisaste, e precisas, e não consegues entender o meu lado. Mas eu não posso fazer mais nada, não posso sujeitar o meu coração de menina a andar nos teus testes de montanha-russa sem que lhe dê um baque. Já te disse, quando chegares a alguma conclusão comunica.
Por agora, como diz o caro André Santos, está dado o meu último chá.

5 comentários:

Filipa Castro disse...

Estou quase a chorar com o teu texto.
Talvez pq me identifico com cada palavra que escreveste.

Não és a única a ter medo de "alturas".

O papá teve razão no que disse. Quando se demora é pq realmente não se gosta como devia.
O coração não precisa de tempo para saber com quer estar, precisa é de tempo para esquecer com que quer estar.



"Grito, chamo uns quantos nomes e rogo pragas não ao senhor que está a controlar a montanha russa, mas sim a ti. A protecção não foi forte o suficiente, não estava à espera que a descida fosse tão brusca, e caí, caí redonda no chão."


Havemos de recuperar da nossa queda. E até lá, assim como tentas segurar no meu coração, tentarei também segurar no teu para não cair mais.


Gosto mesmo muito de ti menina :)
Beijinho*

Claudia disse...

Espetacular! E por agora fica assim mesmo pois a tua razão é mesmo lúcida e está a ver as coisas tal qual são. Sim... fazem mal ao coração, principalmente a corações tão doces como o teu. Mas agora não é tempo de ter medo. Aí estás em segurança e deres umas voltas é porque é isso que te apetece. Não tens que gostar da montanha russa se causa aflição :)
Beijinho

U disse...

(não li, mas hei-de voltar)
Às vezes tenho a estranha sensação que já te conheci à uns anos. Eu dou-te um bocado disto :D *

Tani disse...

Oh baby, eu tento segurar-te, juro que te tento amparar. E tenho tanta pena que o teu coração nao seja revestido por uma protecção que não se solta a todas as alturas. Tenho tanta pena que tenhas decidido embarcar na montanha russe errada. Tenho tanta pena que te doa o peito.



Mas estou tão feliz por teres crescido. Estou tão feliz por teres aprendido. Estou tão feliz por poder ter estado perto quando pecisaste, Estou tão feliz que tu sejas decidida. Fico tão feliz.

Marianita disse...

Adorei o texto, sim tambem sinto que na nossa vida andamos mts vezes na montanha russa, e as descidas repentinas por vezes custam tanto.
Força
beijinho