sábado, 30 de maio de 2009

Conversas de carro.

Abri a porta do carro, sentei-me e bati para fechar com força. Eu é que devia ir na frente, nunca tinha andado no banco de trás, reclamei. Ele parou o carro, mandou-o saír, voltei a abrir a porta, sentei-me e bati para fechar com força, desta vez no banco da frente. Ao fim de umas horas, com o coração já quente com imagens gravadas que se converterão em memórias daqui por uns tempos que já começam a deixar saudades, ficámos os dois sozinhos, ele ao volante, e eu ao lado, no banco da frente do carro. Estacionou à porta do palácio, mesmo ao lado do meu jardim de princesa, e ficámos os dois a olhar um para o outro.
- Não gosto quando estás assim. Fico mesmo chateado. Às vezes andas mesmo bem, basta alguém falar nele, ficas logo em baixo. E logo tu, que não consegues esconder nada, pelo menos de mim. Sinto logo que não estás bem, e fico pior. Fico chateado com esta porcaria toda, com o facto de gostares tanto dele, ficas sem brilho.
Pedi-lhe para que não ficasse chateado, que eu não andava assim tão em baixo como ele acha que ando, que ainda tinha brilho, mas que logo logo ia voltar a brilhar tanto que ele até se ia irritar. O peito encheu-se de lágrimas que queria deitar cá para fora, mas não deitou. Ele preocupa-se mesmo comigo! Não tenho o direito de não brilhar e tirar-lhe brilho também.
- Eu gosto muito de ti sabes? Mesmo quando tu pensas que eu não gosto, ou quando eu amuo contigo. Se não gostasse, não amuava. Eu vou gostar sempre muito de ti, e não te preocupes, não fiques chateado, eu sei que tu não achas bem que o meu coração de menina e princesinha ande para aí a dar amor a quem não quer, ou não sabe se quer, ou que quer de vez em quando. Eu não perdi o brilho, olha para mim, não vez como continua a dançar pelo vento? Não com tanta firmeza como antes, mas continuo forte, cabeça despreocupada e coração alegre.
Ficamos os dois a olhar um para o outro, ele não estava só chateado por isso, havia mais. A pouco e pouco ele começou a falar, a despir um bocadinho o seu coração, a abrir devagarinho e a deixar-me entrar mais um bocadinho, pouco a pouco, quase sem dar conta, em pequenos passinhos de dança. Eu continuei calada, a dizer que sim com a cabeça em sinal de que estava a ouvir, compreender e até concordar. Naquele momento muita coisa me foi explicada, muita coisa passou a fazer sentido, na cabeça e no coração. Mas há ainda muitos nós para desfazer e muito novelo para voltar a enrolar. Ainda ficou tanto por se dizer, eu sei.
- Não és só tu a passar por isso, estamos todos assim. Temos todos medo do que vem daqui a uma semana, temos todos medo que tenhamos andado a segurar uma máscara e que daqui a uma semana cai. Mas se somos uma peça, estamos muito mal ensaiados amigo. Eu acredito, e chama-me naive se quiseres, que tudo entre nós os oito é e foi verdadeiro.

Dei-lhe um abraço, disse-lhe que gostava muito, mas muito dele, dei-lhe dois beijinhos. Abri a porta do carro, saí, bati com força para fechar e ao entrar em casa, encontrei o meu avô que me disse:
- Tu lembra-te que o teu avô tem um curso da vida. - é verdade amigo, dessa pouco nós sabemos. - E agora cama que já é tarde para andares aí a vadiar.

1 comentário:

Jessica disse...

obrigada pelo comentário e pela força Marianinha :)

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